Beatrice.
Uma espécie de força mística além do explicável pelo que chamamos de consciência.
Uma espécie de força mística além do explicável pelo que chamamos de consciência.
Mas, espera um pouco.
Esse contar não começa com coisas boas! Mania que as pessoas têm em colocar o
ruim para o fim.
Todos esqueceram que o arco-íris vem depois da trovoada?
Todos esqueceram que o arco-íris vem depois da trovoada?
Que a linda possa de lama para alegria infantil só vem depois da trovoada?
E que a santa trovoada só vem depois do sol escaldante?
Pois assim, dou real início a esse conto. Com o ruim. Como diria o Autor
português Mia Couto: “Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas,
aprendi a temer monstros, fantasmas e demónios. Os anjos, quando chegaram, já
era para me guardarem, servindo como agentes da segurança privada das almas.
Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e
realidade.”
Para conhecer Bleue passei
pelo processo de conhecimento da superfície da alma de Beatrice. E, definitivamente, não foi fácil. Ora, como se passar
ileso por uma entrega de almas amigas? Adriana Falcão já dizia que “Ser amigo é não me
importar comigo, é me emprestar para o outro”. Tinha muralhas diante de nossos
olhos.

Beatrice sempre foi diante de sua rispidez
a mais doce criatura das fétidas ruas boemias em que vivíamos. Numa madrugada
porém, o que já não era desconhecido passava a ser insubstituível: Estava ela
saindo de seu trabalho, exausta de seus cantos e cantadas, com saltos
absurdamente escandalosos (não mais que seus olhos naturais e chamativos) numa
chuva leve e reconfortante quando esbarrei nela, na minha nada bela tentativa
de falar-lhe.
-Desculpe-me Srta. Beatrice.
-Pois então não olhas por onde andas?
-Pois então não olhas por onde andas?
Com meu guarda-chuvas e olhar pequeno e
desconfiado de criança que pega comida da mesa escondido dos anfitriões, lhe
ofereci um abrigo e uma companhia para a chuva.
E assim adiamos o instante de febril discursão.
Adiamos o primeiro não.
De sua parte por não usar de audaciosos ventos para flutuar nos seus sorrisos a
tanto escondidos, trancafiados.
De minha parte por exatamente exalar tanta emoção a ponto de esquecer que de razão também respiramos e que sem ela somos uma pura ilusão como Sofia.
De minha parte por exatamente exalar tanta emoção a ponto de esquecer que de razão também respiramos e que sem ela somos uma pura ilusão como Sofia.
Pergunto: Ainda sabes quando é delicioso
correr por um parque de eucaliptos sem receio do possível cansaço adulto em
busca da criança perdida? Sabes quão lindo é correr atrás das borboletas?
Sabes ainda onde habita tua criança?
Sabes ainda onde habita tua criança?
As crianças buscam o amor com afinco e zelo contudo, tanto tempo se passa até
que encontrem dentro de si o conto de fadas que sonhou com externo, que
escondem essa criança.
Se trancam entre portas pelo adulto que habita o outro.
Se esquecem de sua criança pelo outro.
Então bate a tristeza, o inexplicável cansaço no olhar, o desgosto pelo
gosto.
As crianças matam suas crianças, quando encontram o amor.
Poucas entendem que o amor habita no livre saltitar com o sol. Com o banho de
riacho.
Poucas entendem que amor não segura, vai junto.
Que o cansaço estar no matar o sorriso que você tinha por ver o sorriso
reciproco.
Onde você escondeu sua criança?
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