"Angústia é um nó muito apertado bem no meio sossego." (Adriana Falcão)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Beatrice.
 Uma espécie de força mística além do explicável pelo que chamamos de consciência.
Mas, espera um pouco.

Esse contar não começa com coisas boas! Mania que as pessoas têm em colocar o ruim para o fim.
Todos esqueceram que o arco-íris vem depois da trovoada? 
Que a linda possa de lama para alegria infantil só vem depois da trovoada?
E que a santa trovoada só vem depois do sol escaldante?


    

  Pois assim, dou real início a esse conto. Com o ruim. Como diria o Autor português Mia Couto: “Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demónios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem, servindo como agentes da segurança privada das almas. Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade.”

Para conhecer Bleue passei pelo processo de conhecimento da superfície da alma de Beatrice. E, definitivamente, não foi fácil. Ora, como se passar ileso por uma entrega de almas amigas? Adriana Falcão já dizia que “Ser amigo é não me importar comigo, é me emprestar para o outro”. Tinha muralhas diante de nossos olhos. 
     A amizade começou pelos pés. O andar era atrativo aquela atriz que começou sua carreira com musicais em cabaré. E por estar, na época em que nossas essências acenaram uma à outra, adaptada ao doce amargo que era o cheiro adulto daquele antro, adaptada as relíquias que traziam os olhares dos homens que ali iam depositar o desgosto de crescer, ela não viu o modo de compartilhar de amicitia, era fraterna sim e um tanto, já que sua alma possuía o bem que vem do inexplicável. 

Beatrice sempre foi diante de sua rispidez a mais doce criatura das fétidas ruas boemias em que vivíamos. Numa madrugada porém, o que já não era desconhecido passava a ser insubstituível: Estava ela saindo de seu trabalho, exausta de seus cantos e cantadas, com saltos absurdamente escandalosos (não mais que seus olhos naturais e chamativos) numa chuva leve e reconfortante quando esbarrei nela, na minha nada bela tentativa de falar-lhe.
 
-Desculpe-me Srta. Beatrice.
-Pois então não olhas por onde andas?

 
Com meu guarda-chuvas  e olhar pequeno e desconfiado de criança que pega comida da mesa escondido dos anfitriões, lhe ofereci um abrigo e uma companhia para a chuva.
 
E assim adiamos o instante de febril discursão.
 
Adiamos o primeiro não.
 
De sua parte por não usar de audaciosos ventos para flutuar nos seus sorrisos a tanto escondidos, trancafiados.
De minha parte por exatamente exalar tanta emoção a ponto de esquecer que de razão também respiramos e que sem ela somos uma pura ilusão como Sofia.
 
Pergunto:  Ainda sabes quando é delicioso correr por um parque de eucaliptos sem receio do possível cansaço adulto em busca da criança perdida? Sabes quão lindo é correr atrás das borboletas?
Sabes ainda onde habita tua criança?
 
As crianças buscam o amor com afinco e zelo contudo, tanto tempo se passa até que encontrem dentro de si o conto de fadas que sonhou com externo, que escondem essa criança.
 
Se trancam entre portas pelo adulto que habita o outro.
 
Se esquecem de sua criança pelo outro.

Então bate a tristeza, o inexplicável cansaço no olhar, o desgosto pelo gosto.
 
As crianças matam suas crianças, quando encontram o amor.
 
Poucas entendem que o amor habita no livre saltitar com o sol. Com o banho de riacho.
 
Poucas entendem que amor não segura, vai junto.
 
Que o cansaço estar no matar o sorriso que você tinha por ver o sorriso reciproco.
Onde você escondeu sua criança?

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